Thursday, September 29, 2005

UM ATAQUE DE ASPAS

Quero me citar em itálico, diferente da letra de postura correta, a imaginação interfere e vem com aspas onde bem entende. Onde estava com a cabeça, varrida do juízo pra fazer o jogo do resultado manipulado?
As aspas me entregaram, me cercaram e disseram um dia sonhei.
As aspas voam e pousam que nem cupim e atacam folhas datilografadas que nem traças vagabas que dão em itálico, o que me faz lembrar as santas meninas que fazem programa - as arrazoadas, em várias linguagens.
Lá de Santa Cecília Piva benzeu minhas aspas magmatizadas.

Wednesday, September 28, 2005

O QUE DIZER DO SER HUMANO A NÃO SER DIZER QUE SOU UM?

Romeu & Julieta, drama amoroso shakesperiano, sobremesa popular, união proibida, castigo, dos males de engordar aos diabéticos frustrados, todos foram punidos.

O canal GNT transmitiu notável documentário em 8 partes The Staircase, um olhar rápido e íntimo no reality case dum julgamento bem sensacionalista.
Em 2001 o novelista Michael Peterson foi acusado do assassinato de sua esposa Kathleen, uma executiva da Nortel. Peterson sustentou que a esposa caiu da escada na sua luxuosa casa. O premiado, oscarizado diretor frances Jean-Xavier de Lestrade acompanhou a defesa de perto, nas investigações e estratagemas. Os advogados de Peterson buscaram mostrar aos jurados que havia dúvida razoável da autoria do crime, pra chegar ao veredito de não culpado, dentro do espírito da lei norte-americana.
Ninguém sobrevive inocente depois de ter a vida escrutada, devassada pela mídia, pela polícia, pela promotoria durante longo período de tempo.
O trabalho da defesa foi brilhante no aspecto técnico, porém faltou paixão, drama pra convencer o júri. Um desempenho mais apropriado aos tribunais dos grandes centros do leste e não pra cidades pequenas do sul dos EUA. Uma defesa cara, sofisticada, bonita, rica que não seduziu a caipirada.
O documentário de Lestrade é magnífico. A trilha sonora nos faz lembrar um filme de Claude Chabrol "one of those morally ambiguous thrillers about simmering, murderous passions within a bourgeois town".
By the way, Peterson foi condenado por homicídio em primeiro grau numa decisão unânime.

Tuesday, September 27, 2005

O QUE IRIA PENSAR SE VIVESSE DENTRO DUMA GALERIA DE ARTE?

"A pintura faz com que perca o sono, quando aqui mesmo me preparei pra dormir. Mas isso que to dizendo é uma bobagem, a posição crítica de quem começou a fotografar fachadas de cinema e trechos dos filmes que assisto.
O que pretendo é uma paz aqui dentro da galeria, dentro da cidade, que possa ver televisão tranquilo, sem ficar inquieto por estar na cidade e não fazendo, deixando de fazer algo próprio da cidade. Estar tranquilo pra gostar das coisas, pra não pensar e me deprimir.
As pessoas interessantes estão aqui...Gostaria de ler com calma no banheiro o que Mona escreveu no programa da sua primeira individual."

E pensar que longe Dali, uma professora de ginástica explodindo de grávida curte chá de fraldas:
- Se for homem gostaria de chamar Músculo Roberto, o Célio insiste em ter Roberto no sobrenome.
- E se for mulher?
- Proteína Roberto. Já me imagino gritando "Músculo Roberto, já pro banho!" Ou "Proteína Roberto, coma tudo!". Ser mãe é padecer na felicidade perfeita!...

Sunday, September 25, 2005

VAN HELSING, MISTURA FINA

Bom do filme mistura de tudo, referências, historias, lendas, principalmente roteiros de longas diferenciados.
Gabriel, personagem mocinho do filme, anjo exterminador, vai na Transilvania não o melhor lugar pra relaxar. Noivas vampirescas sempre fazem vôos rasantes capturando transeuntes avisados que andam devagar.

Drácula sem coração gritam noivas quando retornam ao santuário do príncipe das trevas.
Ele concorda. Ele drácula latino na paixão por múltiplas noivas e na aparência mais pra Banderas que Pacino, declama ausência de sensibilidade apesar de arroubos temperamentais: I Am Hollow!

LIFE AS WE KNOW IT

No capítulo do garoto sofrendo que a mãe transa com o técnico de futebol da escola, ele começa a querer briga a toa, depois, tá doido que a trepada não signifique a separação dos pais. Aí um mané amigo pra aliviar a barra diz: Hoje fui no hospital porque entrei numa que meu penis fosse explodir. A veia tava danada inchada, parecia cancer ou aneurisma.... Todos riram, e ficou por assim.

TOYS FOR ADULTS

Não foi bem relacionamento, tava pintando estranhamento, to set the record straight mandei email. Confessei amor sem expectativa de reciprocidade. Ela me disse depois da minha confissão que o reencontro foi forte: "Seus olhinhos brilharam que nem criança diante de brinquedo novo"...

The road to perdition: lust in paradise, life in academics. São meninas, são senhoras, são chamamentos à fantasia. Exemplo do circuito de sábado, presenças da energia das idades que não interessam à coerência.

O juízo final veio nas estações finais do circuito. Conduzidos com entusiasmo e gritos dos professores e futura especial menina dos exercícios pra nos colocar nos eixos - linda Ana Lígia.

Os furacões, os tornados da manhã do dia vieram por conta de 2 magrinhas e 1 sentença: idades desiguais, ficam beijos e histórias.

Friday, September 23, 2005

FORMER CHILD STAR,....

Dum filme comédia fábula moral, esquemático, bobagem sem destaques e legal nuns momentos me fez lembrar dum papo cabeça com criatura de meia idade, alta, bonita, pode-se dizer corpo que veste bem a malha acadêmica ou outros mecanismos ocultos a olhos bobos dão trato a silhueta, numa manhã de academia curitibana mais pra população bem rendada.
Meu conceito: devido a orfandade praticamente recente, me sentia imaginoso de pertencer noutra famíllia numa adoção mútua entre as partes, sem cláusulas contratuais, somente deixando fluir as emoções de praxe behind picket fences.
Ela foi irredutível: tinha que constituir família como manda figurino.

Wednesday, September 21, 2005

OLHOS DE GATA

Quem tem gata por perto e conhece do riscado deve sacar olhos de gata, o que está por trás.
Ela, dona de olhos de gata, vários filhotes espalhados mundo a fora.
Seu melhor atrativo as ancas ou quadris largos, parideira promissora pra chamar partido.
Olhos de gata nascidos dentro d'água, crescidos na orla, dourados na ciclovia com pinta maliciosa.
Olhos de gata vividos no mistério enganam e prometem mundos e fundos a olhos vistos.
Não tenho expectativa de ser lambido, nutrido por olhos de gata.

(tava pensando uma coisa saiu outra. To editando no dia 22. Ia falar duma pessoa, dava bandeira, não cheguei a lugar nenhum. O que queria? A secretária preparou feijão com charque, pão recheado de frango desfiado com ricota, mais alguma coisa, formando quase pasta, arroz com cenoura ralada, picada, algo assim. Comi tudo. O que isso tem a ver? Será que bebi? Depois?)

Monday, September 19, 2005

BAD COP X GOOD COP, GIVE ME A BREAK...

Os franceses fizeram esse filme 36 e um subtítulo, referência a distrito policial, ganharam longe da fórmula empregada em seriados e filmes de ação do bezão ao azão hollywoodiano, yankee e estúpido. Não sei por que cargas d'água eles acharam pouco a droga que vem do norte há décadas e exageraram na fraude dos estereótipos. Depardieu x Auteuil que merecem ser vistos independente da indicação do dono da locadora. Ainda assim, até o bandido cop interpretado por Depardieu tava mais pra constrangido tamanha roubada do roteiro, direção e produção. Auteuil no papel de babaca cop devia ta precisando duma grana fácil pra reforma da casa, pra aceitar trabalho tão inferior ao talento do astro.
Única possibilidade do gênero cop render caldo de responsa: coisa rim versus coisa rim.

Sunday, September 18, 2005

DE-LOVELY DE-LETED EMMYS

Era só que faltava, homenagem sentida por platéia aprazível aplausos em pé, carinhas simpáticas elogiáveis fazendo coro a 3 cids moreiras disfarçados de âncoras paladinos do jornalismo americano de grande rede - e daí que um morreu? Jornalismo de editorial político pactuado com o governo federal deles, patrocínio podre poder privado ancorado.
Ellen de-Generes querida apreciável livro a cara dela, Jennifer Garner apesar da escolha matrimonial continua desejável. Arrested Development excelente série ganhou alguma coisa, Boston Legal saiu premiada 2 vezes, uma delas me lembro o William Shatner, justíssimo. Numa brincadeira celebridades tirando do armário trilhas televisivas, os trekies não têm que reclamar houve dueto entre Kirk e lady lírica com aquele uuuuuuuu manjado das jornadas estrelares.
A Fox daqui que eu saiba cancelou as series citadas nem deu valor, priorizou porcarias. A fox é uma merda de assinatura.

Finalmente assisti De-Lovely, vida e amores de Cole Porter. Filme mal resolvido, em cima do muro, não aconteceu como musical - mesmo as participações especiais de consagradas celebridades da indústria da música, produziram o brilho esperado, vide o momento ridículo de Diana Krall - nem vingou como drama ou melodrama, o expediente da narrativa olhando próprio umbigo, o mestre de cerimônias acompanhando o velho Porter desenrolar sua história nos moldes A Vida é um Cabaré, produziu efeito desastroso: roteiro fragmentado, confuso e frio.
Pena, Cole Porter merecia outro Night and Day. As músicas do genial compositor comovem todos os românticos incuráveis, eu que o diga.

Saturday, September 17, 2005

GALEGUINHA DO SEXTO ANDAR

Já nos esbarramos algumas vezes. Ela é a mais velha entre 3 irmãos, todos jovens, a caçula é teen danada parece que estacionou no namorado cafajeste que tanto procurava. O irmão é jogador de futebol profissional, meia esquerda ou direita não me lembro da ficha.
A gatinha galeguinha gosta dum sol na praia, durante a semana, eu que to trazendo cerveja nesse final de manhã pra beber antes do almoço numa vagabundagem infernal, chegamos juntos na calçada frente do prédio interfonando pra dar passagem,
eu falo, - "Não tem ninguém aí, né mesmo? Deve ser dia do Nuinhe...O porteiro voador..."
Ela não entende o papo, quer entrar pela garagem desiste e vai comigo na entrada vigiada por porteiros que não dão a mínima pra qualquer entrada.
No elevador olho pros seus pés, parecem limpos, seu rosto sorriso meigo e franco, falo do novo clube do irmão, ela diz - "Foi cedido por empréstimo..", eu - "Ainda bem que o Coruripe tá na terceirona, ele vai continuar jogando...", ela - "E o CRB não foi rebaixado..", eu - "No último minuto.." Chego no terceiro, andar, ela se despede com educação exemplar, me deseja uma boa tarde.
Outrora noutro dia, ela entrou na minha cola, eu perguntei: - "Vai subir agora?",
Ela, - "Não, vou lavar os pés!"...

Friday, September 16, 2005

100 BALAS

Quadrinhos dos bons, premiada novela gráfica surgida da parceria nos teclados o americano Brian Azzarello e na ponta do lápis pura música do argentino Eduardo Risso.
Agora luxuosa edição da obra está disponível no nosso território amigo, bem traduzida por Roberto Guedes, publicada pela Opera Graphica Editora.
Agente Graves com 100 balas e uma pistola oferece a qualquer vítima de um crime curar ressaca de injustiça...

Thursday, September 15, 2005

ONTEM MOSTRA CHEGOU AO FIM

O pior da Mostra continuou sendo o cinema exibidor. Poltronas impossíveis de cumprir o próprio destino. Cópias projetadas sem a menor qualidade, sujas e riscadas.
Abstraindo o mal sentado e o mal olhado, 4 filmes foram legais: O Gosto dos Outros, Harry chegou para Ajudar, À Beira da Piscina e o último A Viúva de St. Pierre.

La Veuve de Saint Pierre dirigido pelo excelente Patrice Leconte (sou fã) é um filme maravilhoso, magníficas atuações, obra harmoniosa e charmosa, pra guardar carinhosamente na memória. Transcrevo trecho da crítca do Nytimes: "The Widow..has the bold, earnest emotion of a classic 1940's Hollywood melodrama, and its 3 stars Juliette Binoche, Daniel Auteuil and Yugoslav filmmaker Emir Kusturica, acting debut, play their close-ups with the ardor and stoicism of the great movie stars of old."
O longa é baseado numa história real cerca 1850, acontecida num posto avançado francês afastado da costa canadense, a ilha de St. Pierre. Um homem foi condenado a morrer guilhotinado, mas acontece que na ilha não havia guilhotina, enquanto esperava o cumprimento da sentença ele acabou se tornando ídolo da população local.
Neel Auguste, personagem vivido por Kusturica, fica sob a responsabilidade da guarda militar da ilha, sob o comando do personagem interpretado por Auteuil, chamado simplesmente de Capitain. O condenado desperta na esposa do capitão, Mme. La (Juliette Binoche), compaixão, curiosidade e sensualidade.
Forma-se um triângulo romântico inusitado, hipnótico, sarcástico, provocativo e vívido, raro na época.
O filme se detém com igual importância na elite que governa e manipula o poder na ilha.

O filme é feminista, feminino. Mme. La personifica a mulher ativa, valorizada, caráter forte, com ideais. Sobretudo apaixonada, no que faz e no que pensa.
Feminino na força revolucionária da mulher, criadora da vida, condutora do amor, razão e sensibilidade.

Wednesday, September 14, 2005

ESTRANHAS LIGAÇÕES

Carnages pra diretora Delphine Gleize, mesmo apropriando do início ao fim da presença do toureiro, plasticidade da imagem, referências históricas e religiosas, cuidados precisos da indumentária e aparência pra chegar na atração principal a coreografia majestosa do mestre sala nota dez - o filme é muito chato. Pra não dizer cruel e perverso com o touro que sempre se fode galhardamente. O toureiro quando leva a pior é vítima do excesso de confiança nos olhos do touro, basta um estar cego pro senso crítico equivocado da fatalidade prevalecer.
O jovem toureiro é chifrado no fígado, o touro assassinado, a partir daí o longa-metragem explora conexões misteriosas bizarras: a menina de 5 anos toma valium assiste tourada na tv ao vivo como o brasileirão de futebol, ao seu lado um cachorrão grande que nem cavalo deprê. O touro é esquartejado, das entranhas aos chifres quase tudo é negociado no mercado internacional de touro morto, Espanha, França, Bélgica. Mãe que dirige sem óculos incomodam osso da face, enxerga borrões de luz e cor, janta filé de touro em restaurante caro com a filha professora, a filha tem problema origem na infancia e é obcecada com desenhos infantis da sala de aula. Velha punguista presenteia o filho taxidermista os chifres do touro, enquanto ele num trailer sem higiene prepara os cadáveres de 5 puppies pro empalhamento. Mulher grávida de quíntuplos quase dá a luz no momento que espera delivery de 8 pizzas pra jantar com o marido e o garoto da vizinha, os entregadores de pizza ajudam a colocar mulher rumo à maternidade, a profissão do marido é pesquisar olhos de touro guardados na geladeira.
Ponto alto do filme Chiara Mastroianni faz papel de atriz italiana na França que sobrevive fazendo bicos teatrais, faz piscinoterapia onde todo mundo fica nu, formam-se duplas, agarram-se por traz, pela frente, trocam de posições, depois um segura o outro leve corpo boiando na água; numa dessas sessões triste a gente ver negão se dando bem com careca barbudo os cornos do augusto farias. Ela faz amizade com filósofo patinador.
Pra encerrar: a senhora que mal enxerga é atropelada e morre, seu fígado transplantado pro toureiro, a velha punguista morre não sei de quê, o cachorrão também morre depois de provar osso de touro tamanho famíia, 5 menininhas vêm ao mundo, um desenho infantil forjado é tesouro pra professora, Chiara e filósofo tornam-se partners de figure skating tipo programa espn, na platéia a menina do valium assiste exibindo como tiara chifres que acendem e apagam.

Tuesday, September 13, 2005

À BEIRA DA PISCINA

Swimming Pool, dirigido por François Ozon. Sarah Morton (Charlotte Rampling) é uma escritora inglesa cujos romances policiais conciliam sucesso de vendas e prestígio junto à crítica. A convite de seu editor, ela viaja para a casa de campo dele, na Provence francesa, onde supostamente vai encontrar a tranquilidade necessária para escrever seu mais novo livro. Mas a paz de Sarah é interrompida com a chegada de Julie (Ludivine Segnier), a filha do editor, uma adolescente linda e cheia de vida por quem a escritora sentirá uma grande e estranha atração.
O papo aí de cima é sinopse da divulgação. Ozon escreveu o roteiro em parceria com Emanuèle Bernheim. Vale o que ta escrito e dirigido, muito legal o resultado. A começar pela água símbolo, a metáfora central da transparência e a piscina sempre um iconic cinematic imagery.
A primeira frase significativa da narrativa sai da boca de Sarah: "I'm not the person you think I am". A partir daí o filme segue o rumo da ambiguidade, o jogo de reflexão e refração.
Ozon tinha em mente antes de realizar a obra a personagem vivida por Rampling, dama inglesa do mistério - Christie, Rendell, Highsmith, Cornwell etc, "A number of them drink too much, have repressed lesbian tendencies, and are fascinated by perversions".
O autor/diretor subverteu essa idéia, ao ponto de Sarah descobrir em Julie não interesse sexual e sim material pra novo romance, fugindo do bloqueio criativo e falta de imaginação, graças ao diário da menina.

Charlotte Rampling soberba. Ludivine Sagnier competente tesão de atriz.

Monday, September 12, 2005

CONTOS ERÓTICOS

O livro Intimidades reúne uma coletanea de contos de dez escritoras, cinco brasileiras e cinco portuguesas. Entre outras Lygia Fagundes Telles e Nélida Piñon, Lidia Jorge e Theolinda Gersão.
Luisa Coelho catalisou as incluídas já na apresentação, diferenciando erotismo e pornografia.
O pornográfico como "discurso que, com descrição crua dos atos sexuais, tem como principal objetivo produzir a excitação de um terceiro e, com isso, esvazia o mistério da sexualidade de todo seu conteúdo". O erótico como o discurso a que "cabe seduzir, encara a representação da sexualidade como não sendo apenas confinada ao sexo, mas envolvendo uma história, consciente e inconsciente, onde se inscrevem relações entre o desejo e o interdito, o encontro e o desencontro, o prazer e a dor, o sonho e a realidade, o amor e a morte".
Duas autoras tomam pé no assunto e na palavra: "O pornográfico é o cruel, aquilo que, despindo-se, chega ao osso" (Lídia Jorge). "É pura carne descarnada" (Piñon). Para ambas a literatura e o erotismo se pertencem. "O literário é o campo próprio daquilo que é o metafórico, o lúdico, e o lúdico está com o erótico, não com o pornográfico" (Jorge). "O verbo é erótico. O cotidiano se erotiza enquanto voce fala. Com os gestos, com a boca, com o movimento dos lábios" (Piñon).
Inês Pedrosa assume o rumo da diferença: "Todos somos, de vez em quando e por muito que o neguemos, moralistas. Em geral, consideramos pornográfica a relação sexual da pessoa que amamos com outra pessoa. Ou seja: é erotismo o sexo que nos envolve, é pornografia o que nos exclui. Na literatura também é assim: erótica é a obra que nos desperta a alma e os sentidos; pornográfica a que, por ser vulgar, previsível, não nos perturba".
Na coletanea as escritoras elegem o corpo feminino centro das atenções, o masculino causa certa repulsa, embora "uma repulsa que atrai", segundo Jorge.
O discurso erótico na opinião de Pedrosa aproxima os dois corpos, em vez de separá-los. "Se é verdade que a força da repressão sexual é particularmente visível na escrita das mulheres, essa repressão existe também na escrita dos homens, porque a opressão é também uma escravidão do opressor".

Sunday, September 11, 2005

SCRUBS

Zach Braff ator do sitcom Scrubs escreveu, dirigiu e estrelou o filme Garden State, A Hora de Voltar. Começou bem seu trabalho autoral no cinema, doses apreciáveis de imagens, diálogos, criatividade e interpretações.
E o melhor de tudo Natalie Portman, a estrela romântica dessa empreitada cinematográfica que rouba nossos corações e sentidos. No papel de Sam, a mais sincera, transparente (palavra desgastada pelos políticos) das diagnosticadas mentirosas patológicas. Só não vê quem não quer crer.
Um achado do filme, exemplo legal:
"Anytime Sam feels ordinary, she makes an odd noise coupled with a bizarre gesture, to mark the moment as unrepeatable and thus historic." Fiz isso a vida toda sem a consciência imediata do ordinário ou momento histórico imbuído.

O parágrafo agora tem pouca ou nenhuma relação com o título do post. Do livro "Ada ou Ardor: Crônica de uma Família" de Vladimir Nabokov, John Updike disse "falta experiência humana reconhecível". Será por que "Ada adora insetos, principalmente larvas e lagartas. Coleciona bichos cheios de protuberâncias e filamentos. Já as borboletas saídas da crisálida são preparadas e empaladas num imenso painel - uma excelente metáfora para o romance - A vida vale enquanto é subterrânea, amorfa, passível de observação e isenta de conflito."?

Seguindo ao encontro dos desencontros. "Shall we Dance?", versão glamourizada Richard Gere/ Jay-Low chega perto da beleza original do filme japones?
Não vou polemizar sobre preferências. Ainda mais ídolos de fantasias sexuais.
Bem que existe uma certeza universal: Susan Sarandon é mais gata em qualquer comparação com outras gatas do filme.

Saturday, September 10, 2005

DE HUNTER AO CÃO QUEIMANDO POR DENTRO

É a lenda da cachaça, primeiro a cana de açucar veio pra adoçar a vida dos homens, coisa divina, aí o diabo na terra do sol ficou irado de inveja e rogou praga, a partir daquela matéria prima o homem sofresse o amargor da queimação das entranhas, uma oferenda do 'cão'. Mais ou menos dessa politicagem barata surgiu a cachaça, hoje a preços exorbitantes conforme a escolha, coisa de clientela palaciana, 28 paus a dose da especialíssima Anísio Santiago.

A revista Rolling Stone publicará uma das últimas anotações de Hunter S. Thompson, escrita quatro dias antes de seu suicídio, em fevereiro deste ano. Trata-se de um bilhete direcionado a sua mulher Anita:
"Chega de jogos. Chega de bombas. Chega de andar. Chega de diversão. Chega de nadar. 67. São 17 anos depois dos 50. 17 a mais do que eu precisava ou queria. Chato (...) Não finja sua idade avançada. Relaxe - não vai doer". Isso apareceu em nota de jornal. Traduzido o bilhete assim.

É O SANTOS DUMONT?

Não, é o alagoano Augusto Malta levando pinta na foto da reportagem, do carinha que voou alto e era chegado numa boiolice afrancesada.
O jornal alagoano falou desse pioneiro do fotojornalismo brasileiro que fêz bonito nos grandes centros do país e do mundo, com seu gigantesco acervo fotográfico retratando o Rio de Janeiro entre as décadas de 1900 e 1930, temas de estudos, livros e exposições.
Esse acervo continua desconhecido em sua terra natal.
Augusto Cézar Malta de Campos, nascido em 14/05/1864 na cidade de Mata Grande, a 267 km de Maceió, seguiu pro Rio aos 24 anos. Em 1903 foi contratado pela prefeitura pra ser cronista visual da transformação do Rio em quatro anos, de burgo provinciano a centro urbano cosmopolita.
Luiz Cunha (fotógrafo, jornalista e professor alagoano) lembra "que no início do século passado a fotografia ainda engantinhava na questão estética e tinha um impressão picturalística que remetia à pintura. Malta mudava um pouco essa estética ao passo em que começava a se preocupar com o momento e a fotografar tipos humanos."
O Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS-RJ) é uma espécie de templo do aguçado observador da realidade carioca: 40 mil fotografias, 2400 negativos de vidro, 20 álbuns fotográficos e 115 negativos panorâmicos de 1903 até 1940. Até o final do ano o Mis pretende realizar mais uma exposição sobre o trabalho de Augusto Malta.
O Centro Cultural Light abriu no último mes de junho a exposição "Augusto Malta - Testemunho da Luz", se estenderá até maio de 2007.
Endereços na internet:
http://www.light.com.br
http://www.itaucultural.org.br
http://www.mis.rj.gov.br
http://ims.com.br

Friday, September 09, 2005

CLÁUDIA E MATEUS

Coincidência ou não. O destino me aproximou do pequeno Mateus e sua mãe Cláudia, parecem rotina, esses encontros nada fortuitos com crianças e suas mães bonitonas. Na manhã ensolarada de terça. Coisa de horário de mãe pra dar ao filho atenção, educação e amor aproveitando o convívio da sábia natureza da praia.
O Mateus é um ano mais velho que o Encantador de Tartarugas. Estava exercitando as pernas numa mini bike, fortalecendo os músculos das pernas pra segundo ele dar "grandes pulos no basquete", esporte preferido.
Sua primeira frase ao ser apresentado foi "Sou pequeno mas corro rápido...", e deu sprint na bike.
O Mateus cansou logo da brincadeira extenuante no sol quente. Observações reveladoras:
"Mamãe, o protetor solar tá me dando coceira..."
"Ih, minha perna tá suja de graxa..."
" A bicleta tá com defeito..Posso tirar a camiseta?..Não, não, a bicleta tá boa..Vou andar puxando pela mão..."
Por último negociava pequenos trechos pedalados com pausas nas sombras do percurso, até que "Pronto terminei a rodoviária!"..
Ao que a carinhosa mãe corrigiu,
" Não filho, terminou a ciclovia.."

Thursday, September 08, 2005

BONJOUR TRISTESSE

O terceiro filme Tanguy dirigido por Etienne Chantiliez é uma comédia enfadonha, desprovida de criatividade, humor e inteligencia. Uma chanchada francesa que denigre a chanchada.
Minha opinião contraria o gosto dos nativos do país de origem, pois o filme rendeu estrondoso sucesso de bilheteria.
Tanguy é filho único, especialista em assuntos do Extremo-Oriente e, aos 28 anos, ainda mora com os pais num confortável apartamento. Ele trabalha em sua tese e dá aulas de chines na universidade. Tanguy sente-se bem na casa dos pais, onde inclusive recebe suas numerosas namoradas. Tudo parece estar em perfeita harmonia, mas...

Bem que poderiam ter exibido alternativa de categoria. À Bout de Soufflé, comédia de costumes a la Godard: fast, cool, literate.

ÇA VA, ÇA VA,

Harry, Un Ami qui Vous Veut du Bien (Harry Chegou para Ajudar), o filme da terça dirigido por DominikMoll.
Em meio ao verão, Michel (Laurent Lucas), sua esposa Claire (Mathilde Seigner) e suas tres filhas pequenas partem viagem de férias pra fugir do calor numa casa nas montanhas.
No caminho encontram Harry (Sergi López). Que estudou com Michel 2o anos atrás e tem por Michel estranha obsessão...Estranhos fatos ocorrem a partir desse encontro.
O que poderia ser apenas um rotineiro e interessante serial killer movie, algo como Harry & Michel, feitos um para o outro...Ganha outros ares.

...holiday memory, Michel met an old school friend which he hadn't seen for years. This trivial detail inspired ..to focus..on the theme of the double. The first apparition of the 2 main protagonists in front mirror Harry can be considered as the incarnation of Michel's repressed drives and buried desires - In a way, he's what Michel would like to be or to do (consciously or not)...

...pessoas que se acidentam na própria aguda felicidade..

Wednesday, September 07, 2005

ÇA VA!

"In literature as in love, we are astonished by what is chosen by others" - André Maurois

Está sendo exibida em Maceió a I Mostra Alagoana de Cinema Frances. Tres filmes foram exibidos nesta semana, outros tres na semana que vem.
O primeiro Le Goût des Autres ( O Gosto dos Outros) obedece tripla ameaça, Agnès Jaoui escreveu, dirigiu e estrelou uma sublime dramática comédia. No final o que era ameaça virou tripla satisfação, tão bem sucedido o resultado alcançado.
Agnès explora o tema sugerido pela citação de André Maurois através do enredamento de 2 casais e seus satélites.
O que atrai e distancia, entre pares, do nada em comum ao predestinado a dar certo.
Castella (Jean-Pierre Bari) empresário bem estabelecido casado com Angélique (Christiane MilletJ) num relacionamento sem vida.
Depois de assistir Bérénice de Racine ele Castella se apaixona pela rainha da peça, a personagem Clara (Anne Alvaro), atriz de meia-idade que por obras do destino vira doublé de professora de ingles, dele Castella.
Dois mundos residindo em diferentes galáxias, Clara não é atraída por Castella, embarassada pela intensidade da afeição e inabilidade do pretendente relaxar com o círculo de artistas e amigos culturais dela.
Esse charmoso filme frances revela que não há certezas nos relacionamentos românticos, exceto possiblidades de muitas e muitas complicações. Dito o óbvio, o que interessa é a criação, dos diálogos, das personagens, e do mais refinado enredamento.
Ainda não falei doutro casal, a bartender atriz/diretora/redatora, personagem que contrapõe bandeiras feministas: liberdade pro sexo sem dependencia afetiva, liberdade de exercer alternativa pro próprio sustento - ao fato da vulnerabilidade da paixão. O reacionarismo do outro pra aceitar a escolha do gosto.
E tem muito mais no filme, dos versos à entrelinhas.
Famous verse uttered by Antiochus in Racine's Bérénice:
'Dans L'orient désert, quel devint mon ennui'. Here Antiochus has just delivered news of the last bastion of defenders of Jerusalem: if the Orient is deserted, everyone is dead.
But the poetic dimension of the verse (which includes the fonic) also speaks of the isolation of Antiochus in light of the absence of Bérénice, who abandoned him, and the two solitudes come to simbolize one another: the desert of death, and that of love".
Sentindo a lúgubre farsa de Racine com a amável execução comica de Moliere, Fate may be inexorably predertimed in The Taste of Others, mas até bulldogs podem ser domados.

Na saída do cinema, ouvi casal comentando:
"-Ainda bem que ela passou a se interessar por ele..." Disse a companheira, e o cara respondeu:
"- Também..ela fazia docinho..."

Saturday, September 03, 2005

CHANCE DE ENCHER LINGUIÇA

Nada como um post pós outro pra dar a ilusão dum blog updated. O que se segue é a continuação ou parte II do post Mulher Super.
O que podia ser simples comment por que não transformá-lo em post?
É uma corrida contra o tempo.

Tava vendo no GNT o programa Superbonita. Não estava lúcido. Spaced out devido ao ácido que ingeri jejum com a vodka Natasha, não sei quem estava ao meu aldo, se eram carícias ou reação alérgica.
Under the influence, escrevi sobre o programa, no final queria responsabilizar alguém, escolhi as blogueiras (livre associação de idéias, tratando-se de beleza) e evitei chamá-las de cachorras, mesmo importando juízo de valor elogioso (haja visto o que foi o VMA Live from Miami, o hip-hop veio pra dominar a mtv).
Agradeço minhas 2 leitoras Rose & Raquel que comentaram, antes pensaram em uníssono:
"Poor bastard..He is fucked up ,,-..getting worse by the hour.."

Friday, September 02, 2005

MULHER SUPER

Não sei onde quando começou minha obsessão pela mulher bonita, no tato, no cheiro, na fala, no andar, nos gestos, dúvidas e perfeições.
A mulher bonita nao tem fôrma, origem, dna, numa receita pra cá dos deuses.
A mulher bonita me persegue na história, na criação, na fantasia: dona de casa quilinhos a mais, estudante estressada com batom e cara limpa, atleta com maçãs rosadas do sangue nas veias do rosto.
Mulheres bonitas cheias de idéias, contornos emocionais, visões, atitudes e assertivas. Blogueiras que me provocam.

Thursday, September 01, 2005

FALAR DE BLOGS, FALAR DOS OUTROS

Falar dum dia após o outro, tal qual passar pela pessoa no exercício diário, no coletivo pro trabalho, do vidro do carro pra outro vidro. Falar de rotina, reconhecer o outro vivo no dia a dia. Se importar com a falta, a ausência e querer aquele 1 sempre no seu trajeto.
Falar num recado, num post, numa lembrança, quem sabe em comum?, que interesse ao outro...que fique um afago e voce continue vivo.