Saturday, August 21, 2004

GERALDO, O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA - VI

A puberdade do Geraldo levada à existencia no Rio foi nutrida pela coisa da herança cultural. Naqueles tempos e circunstancias ele prezava com maior valor a excitação máxima da mulher pelada pelo nariz descoberto. Daí ele criou fixação no nariz à imagem de sua própria feição cuja crase chamava atenção.
Geraldo passou a sofrer cada vez mais conflito de identidade sexual. Não bastassem os másculos homens árabes de bigode e barba se amarrarem em dançar em funerais.
No Rio as garotas mostravam muito. Ousavam desnudar qualquer parte do corpo. Dona Dédé não podia aturar que seu filhinho se encantasse com o nariz da primeira habitante de copacabana que viesse de cara a toa.
E devido a tanta repressão, o jovem Geraldo acreditava que bigode só acontecia lá encima nos seres humanos. E jamais deveriam existir pelos tão impudicos e fora do contexto lógico.
E consequencia da falta de educação sexual adequada no ensino em geral, o Geraldo teen demorou a saber das coisas cabeludas ou pentelhudas do homem em transformação.

Tuesday, August 17, 2004

POLÍCIA

Com a experiência de décadas assistindo bombas policiais feitas para tv ou cinema, longa-metragens ou seriados, ficam resíduos na memória - frases ditas por detetives, tenentes, capitães, chefes e parceiros de todos os tipos e hierarquias. São declarações que sintetizam anos de carreira e conhecimento; pensamentos formatados em poucas palavras cujos significados perseguem nossas mentes e atropelam nossas paciências. No rastro de momentos difíceis desses profissionais de pavio curto, dentro de momentos difíceis dos enredos contados, causando momentos difíceis de engolir, seleciono dois exemplos:

"...´JUST DOING MY JOB!!!" (frase normalmente enunciada por detetives negões, depois de cagadas cometidas e acompanhada da entrega da insígnia na mesa do superior bundão. A arma só vai junto quando exageram na falsidade). Pode ser ouvida também na versão branda "just doing my job", em voz baixa, de leve, pra justificar competência.
E
"...´YOU GOT TEN MINUTES!" (serve pra bandido ou mocinho. As vezes o comando verbal sussurrado ou em voz baixa não dá tempo a perder, aí "five minutes" são imperativos).

CONTO DA CRIPTA. ALEXANDRE, O CABEÇA - III

Pegando o diálogo andando. Nas palavras do Alexandre não sei com quem:
"- Fugi cedo pra casa. Ela me atingiu em todos os pontos fracos. Estou bebendo a horas e não consigo tirar as unhas daquela sirigaita cravadas no meu coração. E como tava gostoso olhar praquela sandália verde...
- Coma alguma coisa gordurosa.
- Podes crê...Não!, não. Agora estou vendo o culote saliente na calça branca apertada...
- A calcinha entrando no rabo?
- E o botão da calça não fechava. Tentei puxar o ziper e ela disse só deitando. Meus dedos ficaram vermelhos, com cãibra ao puxar o ziper; enquanto ela me enlouquecia derramando cerveja nas minhas calças. Pra me sacanear.
- E o que mais?
- Ela esfregou um acarajé emcima.
- Não, eu queria dizer...
- Meu deus, tenho que trocar a calça; não aguento mais esse cheiro. Ela me domina a distância.
O papo foi interrompido com a chegada do garçom e iscas de frango frito. Depois disso a conversa tomou outro rumo ou não.
- Preciso fazer transplante.
- De quê?
- Não sei.
- É por causa da menina?....Voce precisa de uma velha na sua vida.
- Estou com doença de velho, acho que a pressão....
- Pressão alta? Muito sal, tira-gosto?
- Não, a pressão do sexo. Pra quê esperar? Quero estuprar já.
- Seguido de morte?
- Se eu vir aquela desgraçada hoje, mato primeiro e corto a cabeça. Ela me atormenta a noite, nos sonhos, nos pesadelos. Sempre me sufocando com a língua.
- Tenho que ir, tchau.
- Não, pera aí. Sabe o que ela me disse ontem, aqui mesmo?...
- Que te ama?
- Falou que uma amiga usa manga pra se masturbar.
-Manga rosa?"

Friday, August 13, 2004

O SIMPLES

O Nando disse e achei legal. Nas palavras dele: "voce realmente sabe escrever o simples de uma maneira rebuscada."

Thursday, August 12, 2004

UMA COISA PUXA OUTRA - III

Mentir pra explicar por que não fui àquela aula no primeiro ano primário, me senti esperto ao dizer pra professora algo como a visita da minha avó doente causara dirupção na rotina familiar ou desestrutura no seio dos parentes sob o mesmo teto. Ou seja, me senti sem artérias de tráfego com as próprias pernas a mercê dum caos maior.
A professora fingiu entender a fraude do nanico impostor e com extrema elegancia reconheceu o exercício dialético do topetinho folgado deixando passar em brancas nuvens o episódio.

Wednesday, August 11, 2004

GERALDO, O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA - V

A mãe do nosso biografado ficava encantada com o crescimento rápido e saudável do Geraldo. Mesmo no Rio de Janeiro ela insistiu que ele continuasse aprendendo e praticando a magia e o rebolado da dança do ventre.
E qual não foi a sua emoção quando surpreendeu seu xodó parrudinho ensaiando coreografia da milenar dança árabe, adaptada ao primeiro sucesso do Roberto Carlos, escondido no quarto, o rádio tocando SPLISH-SPLASH. E Geraldo soltava a franga: com remelexos de quadris, rodopios, salamaleques, desmunhecadas e demais movimentos de pura leveza e sedução.

Roberto, Erasmo, a Jovem Guarda embalaram a trilha sonora dos primeiros anos da vida transgressora e rebelde do Geraldo. Foi marcante sua transformação pra acompanhar a moda da época: a franja dos cabelos cobrindo-lhe a testa, lapelas altas da camisa engolindo o pescoço, a calça saint-tropez apertada que fazia ele andar como estivesse obrado, sem contar a imensa boca de sino embaraçando a botinha branca.

Tuesday, August 10, 2004

UMA COISA PUXA OUTRA - II

Fazer turismo sem dinheiro leva à lembranças destemperadas ou agridoces dependendo da influência asiática.
Em new york me hospedei no Y.M.C.A. por opção de pobreza não sexual. Na hora de tomar banho ou outros usos utilitários do mesmo espaço pra fins coletivos, a escolha do horário era fundamental. Os chuveiros habitavam um espaço democrático, pelo menos meia dúzia de homens do sexo masculino em pelo, regulavam torneiras quente/frio. Se fosse temperar a água interferiria na qualidade do banho do estranho ao lado, variando da queimadura por calor ou gelo. Jamais o sabão deveria escapar do controle das mãos nem o olhar se perder ao redor, ao ponto de indicar boas vindas à vizinhança.

UMA COISA PUXA OUTRA

Não necessariamente convergindo pro mesmo canto, isto se uma coisa puxa outra. Ainda batendo a lembrança crítica auto-limpante, na minha infância mais jovem que deixou memória esfarrapada, aconteceu no momento de tédio e falta de graça no futuro imediato, tentar passar a cabeça própria num espaço apertado e recortado no meio da construção geométrica de qualquer portão de residência na rua em que morava. Fiquei entalado pelo pescoço sem poder me retirar, o que causou pânico a princípio e depois deu tudo certo sem a presença dos bombeiros, ficando apenas a vergonha de me sentir cabeção sobrevivente na vizinhança.