Saturday, July 30, 2005

TRIATLETA NÃO É BEM ASSIM

O espaço era demarcado como sala de aula, carteiras, fileiras com a diferença fundamental pra alguns, não se tratava de sala, faltavam paredes e teto, na frente no lugar do quadro-negro uma barra de ferro pras bicletas estacionarem.
Sentado numa carteira ia participar da prova, pedalar não sei o quê, pensava em simular acidente na largada pra ser desclassificado, subiria na bicleta, um giro e de venta no cimento, muito drástico, hipótese conveniente tombaria de lado até o chão antes do giro, aos brados "joelho, o joelho...fudeu!", meus colegas de turma iriam querer distancia do boca suja.
Antes da queda, antes da hora h, havia o prato de comida em cima da carteira, tinha que dar conta duma super fatia de bolo e porção generosa de arroz. Bolo aguado, nada doce (será que foi a Carla que fez? Ela falou que não ia colocar açucar).
Quando comia o bolo, voz feminina comentou "o arroz tá tão leve, nem parece arroz".
Nisso o Fabrizio gritou "Nelson, coloca o tenis, largada daqui a pouco!"
Percebi que estava de sandália de dedo, o tenis era conga, sem cadarços. Melhor ganhava tempo, pensando se realmente aquilo era triatlo, coloquei o cadarço desleixado, deixando de fora varios furinhos, outra pessoa me ajudava, refiz meu trabalho, cabeça abaixada, as vezes arriscava um olho e via uma garota pronta pra largar, todos os requisitos de segurança em ordem, verdadeira atleta.

VIOLENT FEMMES

Hoje ouvi The Very Best, sixteen Femmes favorites on a single disc, including one of the most memorable radio staples of the decade, Blister in the Sun,
Prefiro Gimme the Car, começa mal ou bem desse jeito,
C'mon dad gimme the car tonight
I got this girl...

Thursday, July 28, 2005

BLOG PRA VIPS

Graças a Rose, me alertou pra desbloquear os comentários. Antes só bloggers podiam comentar no blog, pessoas cadastradas nesse espaço cultural. O que me deixou numa solidão terrível.
Graças a Rose, fui ler o manual de instruções, tratei de tomar providências, depois desse tempo todo. Que rei sou eu?

Agora liberou geral. Podem chover cats, dogs and comments.

MAL, SÍNDROME, MALUQUICE...

A tia voces conhecem de posts passados. Vou ser mais específico, quanto às coleções de caixas de sapato e chaves.
Caixas de sapato de 10, 20, 50 anos. Valor estimado pra quem tem a mania incalculável.
No início havia o propósito dum dia ser útil pra armazenar lembranças, minha vó arquivava rezas, santinhos e orações.
Ou então reciclar presentes, como Seinfeld batizou não me lembro bem, se regiver (o episódio da maquininha etiquetadora), quem ganha e passa adiante o presente dado.
Pra limpar a poeira das caixas e conservá-las semi-novas, usadas não há quem diga, nada como um pano úmido de alcool.
As caixas relíquias, preciosas com ornamentos no papelão são intransferíveis, serão enterradas junto na pirâmide da faraônica colecionadora.

As chaves são um capítulo a parte. Elas resguardam em quartos fechados a sete chaves as raridades da coleção pra abelhudo nenhum botar olho grande.
São tantas chaves, diferentes formatos pra atender portas, arquivos, gavetas, cofres, malas, transportadas em molhos ou soltas na bolsa de mão.
Sempre ocorrem perdas ou extravios que provocam um deus nos acuda. Tudo é vasculhado, futucado, a suspeição não livra ninguém nem os objetos. Se a chave do armário estiver presente, a desarrumação é total, armários abarrotados viram-se nus, constrangidos com o súbito esvaziamento.
As chaves no entender da tia podem cair na cobiça alheia e volta e meia são escondidas e falta cristo pra encontrar depois. Daí desarrarruma-se o que tiver pela frente, excetuando os armários se já estiverem pelados.

Wednesday, July 27, 2005

PRA FICAR NA COMPANHIA DO BOM DIÁLOGO

Extraído do livro Titan de Philip K. Dick uma personagem diz, lá pela página tal,
PAT:
- Eu posso ler sua mente, Sr. Garden. Voce sabe um pouco sobre mim, tendo conversado com Joseph Schilling a meu respeito. Então voce conheceu Mary Anne, minha filha mais velha. E voce a achou terrivelmente atraente, como Schilling disse...tanto quanto eu. Voce não acha que Mary Anne é um pouco nova pra voce? Voce tem 140 ou por aí e ela tem 18.

Tuesday, July 26, 2005

TRANSCRITO DUMA GRAVAÇÃO PRECÁRIA

Dois amigos tramam o enredo da peça de teatro:
"...Um - ...Eu acho que a gente num (começa a rir..)
Eu acho que ela tem de gostar de muita comida cachorro-quente, gostar de queijo frances,
ela não pode comer.. tendência a engordar e ela passa mal, fica com erupções na pele e
ele tem que se amarrar em gostar de comida também, comidas estranhas, comidas árabes..."
"...Outro - Assaltos a geladeira de madrugada..."
"...Um - Na verdade ele pensa sempre...aí ele tem aquele devaneio que ele fica querendo falar de fome no nordeste (não completa a palavra com medo), de fome de alguém, ele fica pensando sempre...naquelas menininhas essas que vão no sinal pedir dinheiro pra ele..Que uma vez, ele tava parado no sinal aí uma menininha muito...parou assim para oferecer chiclete, ele quis passar a mão, nem se tocou que a menina tava pedindo comida pra ele, uma garotinha só porque ele viu a bundinha dela tal quis passar a mão..aí sabe..Porra...aí a menina se prostituiu mesmo porra, por 1o conto ela porra... ...aí ele gozou dentro do carro..."
"...Outro - Aí depois que ficou foi uma caixa de Mentex..."
"...Um - Sim...É...(explode numa risada) ....É patético, é patético..."
"...Outro - É suicidante..."
"...Um - Eu não aguento, sério...eu não queria ser produtor de mim...."

Antes, um e outro, judeu e católico, na ditadura dos anos 70, quase num preâmbulo:
"...Outro - A gente tem que falar muito na censura...qualquer coisa, voce...é a censura..."
"...Um (ri) - Eu vou entrar em conflito sério com a tua criação, porque voce não tá dando o devido ...seriedade ao negócio (rindo) vem aqui na minha casa tomar o meu espaço..."

continua

Sunday, July 24, 2005

SEMPRE A MEMÓRIA

"bricabraque desconexo, feito de pequenos pontos de luz num universo escuro."
(menção crítica literária, Antonio Gonçalves Filho, Ag. Estado, sobre livro Mistérios da Literatura, autor Daniel Pizza)
Alain Resnais, O Ano Passado em Marienbad, mencionado como exemplo na trama onde memória é relevante ao apagar traços indesejáveis ou essenciais.
Um ex-amante tenta convencer uma mulher casada a fugir com ele do hotel onde estão hospedados. A impossibilidade surge na ausência de lembrança da mulher amada, tanto quanto percepção de sinal de intimidade.

O livro do Daniel trata das referências afetivas a partir das lembranças e significados das obras de quatro escritores Edgar Allan Poe, Machado de Assis, Joseph Conrad e Franz Kafka.

Nas suas fraquezas e conquistas o homem machadiano na visão do autor é pateta ou patético. Vem aí uma biografia, aguardada com respeito, antes concordo sou vítima da patetice independente do estilo de época.

A memória vai onde bem entende. Mostra no Guggenheim, Mapplethorpe e maneiristas associam na tradição clássica, desinteresso da obra e sim a amiga declarada me adula, Cindy Sherman revisitou.

Rose memória, morei num apartamento frente pro mar vários prédios impedindo a visão das águas. Deitado num sofá, baixo da janela, transgredia olhares do livro pro azul la fora, alcançava paz no céu do mar.

Saturday, July 23, 2005

FLUXO DE CONSCIÊNCIA

O retrato do artista quando jovem confundiu-se com Ulisses, de Molly a Bloom fez discurso no primeiro ato. Há tempos, de Joyce não tem nada a ver,
Da série não jogou fora porque encontrou:
Porra, de novo, tá acontecendo mais uma vez, não sei...acho que agora é definitivo, não há escapatória...Não aguento mais falar, eu falo muito nisso já se tornou uma coisa gigantesca pra mim...O que eu to falando? O pior é essa dor de cabeça...To passando mal e começo a falar o quê, afinal? O que é isso?.......,Seja quem for, guiado na direção tão longe dos mistérios do amor, contemplando coisas bonitas de maneira certa, está alcançando a últimia fase..."não sou eu que to dizendo"...Súbito ele vai se aperceber da beleza maravilhosa na sua própria natureza, esta mesma beleza, pela qual todas as primeiras coisas duras da vida nasceram; primeiro sem nunca ter nascido ou morrido; segundo, não bonito aqui e feio ali, não bonito agora e feio então, não bonito numa direção e feio noutra direção, não bonito num lugar e feio noutro lugar..."abrir parênteses, uma pausa, trocar palavras, gaguejar"... beleza sempre existente, sem aumentar nem diminuir; esta beleza não vai se mostrar a ele como uma face ou mãos ou qualquer parte do corpo, nem como um discurso ou ciência, nem residindo em nenhum lugar, como criatura viva na terra ou no céu ou outro lugar, mas sendo por ela mesma com ela mesma sempre na simplicidade; enquanto todas as coisas bonitas fazem parte desta beleza de tal maneira, que elas nascem e morrem ela se torna nem menos nem mais e nada mesmo acontece a ela; assim quando alguém do amor adolescente chega até estas coisas bonitas e vai mais alto, para esta beleza, e começa a percebe-la, ela quase tocará o segredo perfeito.

Wednesday, July 20, 2005

ERA BOM E SABIA

Tentei recriar esse texto não prestou. Encontrei o original.
No início dos anos 70 escrevi o que vou reproduzir sem mexer em nada.
Por que não continuei sendo interessante?...

um conto de ficção científica em que um foguete tripulado desses que
tem missão como permanencia recorde no espaço e o pessoal encha o saco e fuja do
controle espacial e de fazer coisas que eles já estavam de saco cheio de treinar e que
ninguém aguenta ver mais na televisão

outro foguete sai na perseguição e acabe todo mundo pirado e perdido
no universo e que desistam da perseguição que é uma idiotice, a nave
perseguidora vê que chegou um ponto que não dá mais pé. Nessa altura ninguém
se entende e sabe que babaquice toda de foguete e principalmente foguete atrás
de foguete

os dois foguetes vão parando nuns planetas pra pedir informação
pra voltar pra casa. O pessoal é atencioso quer ajudar mas horroroso
criaturas mais do que alienígenas de outros planetas uma miséria de feiura
que não fala nada que se aproveite e que quando tenta fazer gesto
é aquela desgraça numa confusão de pata pêlo gancho olho braço pitomba
manga melancia galho strogonof um cheiro de pântano horrível e insuportável

HUNTER S. THOMPSON unplugged

QUOTE
WRITING THE MOST HATEFUL KIND OF WORK
LIKE FUCKING, WHICH IS ONLY FUN FOR AMATEURS
OLD WHORES DON'T DO MUCH GIGGLING
UNQUOTE

Sunday, July 17, 2005

HE FOUND A WAY TO CHEAT HIS OWN DEATH

Jude Law também está por aqui, Sky Captain and the World of Tomorrow, não que seja imprescindível. O que importa, ele e Gwyneth Paltrow dão relevo à fantasia computadorizada.
Pena que a adorável beiçuda Angelina Jolie seja figurante nesse enredo de gibi.

Pra mencionar art deco e Metropolis é totalmente out of my league. Quem sabe estaria viajando na dose?...

I CAN'T TAKE MY EYES OF YOU, I CAN'T TAKE...

MY MIND OF YOU...
So it is just like you said would be...
..life goes easy on me
most of the time...

Só agora vi Closer, como se não tivesse cinema em Maceió. Gostei. Filme justo, bem costurado, bem resolvido desde a escolha do elenco, direção, até a montagem.

As dores do amor, os mistérios, as mentiras, as verdades, as decepções, as obsessões. A dependência química do amor.
Eu como se não desse bola. Vivesse apaixonado pra não desaparecer arrependido.



Wednesday, July 13, 2005

NEVERMIND

No momento que dividimos mistérios irreconciliáveis. Vou balbuciar lyrics do nirvana. Embaralhadas dum album classico.
Com cheiro de negação juvenil, espírito de fraude entre tres perdedores, expectativa de sexo e uma webcam muda num clipe caótico.
..And I'm living off of grass
And the drippings from the ceiling...
I don't know why I'd rather be dead than be cool..
..I feel stupid and contagious...
..And she's just as bored as me"

No que ficou ela foi toda separação.

Tuesday, July 12, 2005

TARDE DA NOITE

estou na jangada, escuro pra caramba, caraca, esquimbau, não vejo como retornar pescador por amar demais.
Não trouxe o necessário. (Rose, olhe o travessão:):
" - O que? A vodka importada?"

e se me aproximar da margem não tenho expertise.

A QUE CUSTO SOBREVIVEMOS?

Vendo Shining no wbtv.
Me fez surtar hotéis, não o do filme, vazio e gigante, rico nas opçoes de grandiloquencia. Mas aqueles presentes em road movies.
(cheiro de produtos de limpeza, frigobar, quadros que não falam, na arquitetura de interiores. De fora pra dentro, corredores, carpete pra chegar na consciencia do mofo).
E o principal da estadia transitória. Pesadelos intoxicados. Álcool cobrado aos tubos. Dienpax barato.
(Sexo, Stanley Kubrick e Helmut Newton parceiros autorais, modelos altas magras européias geladas, figurantes na cena do crime, envolvidas em lingerie, sangue e stilletos).

Ninguém merece ser filho de Jack. Deve tá escrito na bíblia de gaveta (ainda estou no lance dos hotéis).

Historias dos personagens vivendo na boca, os títulos poderiam revelar meu final trágico.

Saturday, July 09, 2005

TELEFONEMA TARDE DA NOITE

Culpado de amar demais, fui ser pescador, sem compromisso com peixes.
À deriva durante noite e dia.
Nada de internet, dinheiro e tv.
Não sei pior ou difícil, correr no espaço exíguo da jangada.

Thursday, July 07, 2005

NÃO SOU CATÓLICO NEM FLOR QUE SE CHEIRE

Não entendo de missa. Despedir da vó foi também homenagear minha mãe. Lá não sei onde as duas vão ter bons momentos de prosa e verso acompanhados de todas as gargalhadas sem preocupação com tarefas comezinhas.

Na igreja sentei naqueles bancos espremidos com os da frente, pros joelhos terem consciência onde foram se meter, que rezem pra sair numa boa.
Fiquei bem na frente, um olho no padre outro na sacristia. Dava pra ver a passagem que levava a esse território contíguo. Lá no limiar a secretária do padre, discretamente protegida da visão dos fiéis, tocava sineta no timing correto.
Além de arrumar o altar, água, vinho, hóstia, cálice, toalha, antes do início da missa, durante o culto sua presença tornava-se primordial. Era de suma importância saber a hora de badalar o pequeno sino e produzir sons na medida, sem cair em tentações musicais.

O velho padre deu alguns brancos, mas pegou o raciocínio no ar.
Quem brilhou mesmo foi a velha secretária quando um gato desavisado apareceu manso e espreguiçante. Dando pinta de religioso, o sábio animal ensaiou desfilar na frente das orações.
Eis que um simples gesto negativo com o dedo da idosa coadjuvante, silencioso, fez o bichano pensar duas vezes e recolher-se à outras aventuras fora do nobre palco.

Tuesday, July 05, 2005

AS FACES DA MORTE

Nos últimos anos minha vó mal teve tempo de sentir dor e olhe que ela passou por quedas, fratura e aperreios semelhantes como atendimento de especialistas de toda sorte, alguns com mão pesada.
E a dor onde andou?
Minha impressão? Os sonhos tomavam conta, sem dar espaço à tirania da realidade.
Sonhos subversivos, conquistadores, arrebatadores. Sonhos de outros séculos, milênios, nos quais a gente passou a existir. Dentro da ópera que ela sonhava incessante.

Minha vó morreu, aos 97, depois de gripe, virose, a última aporrinhação. Duas internações e tanta gente futucando a coitada. Ela disse chega. Um basta. Saiu à francesa, pra que ninguém insistisse fica mais um pouquinho.
Foi cuidar de sonhar em tempo integral.

Quando chegar minha vez nada do óbvio desejo, a morte durante o sono repousante.
Penso numa hipótese benfazeja, quaisquer das 10 pragas do Velho Testamento, retratadas nas mortes do filme The Abominable Dr Phibes, com fino sabor.
Vincent Price morto vingando a equipe médica que operou e não salvou sua esposa. Nove doutores e uma enfermeira submetidos aos mais criativos assassinatos.

Ou então a morte antecipada e natural da inocência do filme Lo non ho paura, dirigido por Gabriele Salvatores.
Morte presente na natureza, nos jogos das crianças e na sublimação da violência.

Saturday, July 02, 2005

LONGE DO CENTRO DA RAZÃO

.........., destaco seus olhos, olhares. O sinal ali pela pálpebra no canto do olho direito, pertinho abaixo da sobrancelha. Ponto hipnótico sedutor.
Seus olhos parecem me focar, buscando nitidez num ajuste ideal.
Abertos, são o que são, claros, visionários no alcance e eloquência.

Possibilidades do nucleo caudado & a área tegmentar ventral.

A revista veja ainda bem se presta pra essas coisas:
"Em vários momentos da história, o amor foi considerado uma ameaça à sobrevivencia da especie humana. Do fim do renascimento ao século XVIII, era tido como doença - uma infecção contraída pelos olhos, que se instalava no coração, escravizava o cérebro e poderia levar até a morte. "O amor, tendo abusado dos olhos como verdadeiros espiões e porteiros da alma, deixa-se deslizar docemente por um par de canais e caminha insensivelmente pelas veias até o fígado, imprime subitamente um desejo ardente da coisa que é realmente ou parece amável, acende a concupiscência e por este desejo começa a sedição...Vai diretamente ganhar a cidadela do coração, o qual, estando uma vez assegurado como o mais forte lugar, ataca depois tão vivamente a razão e todas as potências nobres do cérebro que ela se sujeita e se torna totalmente escrava.""..

Esse testemunho médico de era primeva é documento certo do meu estado de época.
A matéria científica da revista afirma que por razões fisiológicas a espécie humana não estaria preservada, caso o indivíduo fosse bombado a viver constantemente apaixonado.
O que discordo de primeira. Desprezo a razão. Diante dos olhos a responsabilidade pela loucura de amor.