RÉVEILLON DA TIA
Os parentes são poucos mas existem, da minha família próxima. Minha tia da praia acertou com meu tio do alto (da serra é alucinação, da parte alta da cidade tem algo a ver) do Condomínio nobre onde a vegetação impera fácil, reunir todos no seu apartamento pra celebrar a virada.
Minha tia é uma pessoa que necessita zelar por seus parafusos, não perder nenhum, regra básica, mantê-los aparafusados sem folga, regra salutar e a regra mais sensível, não cair em parafuso, o que pode ser difícil de visualizar no campo da psicologia comparada dos neurônios. Como explicar cair em parafuso? E ao mesmo tempo justificar a ordem operacional dos parafusos? Só me ocorre uma saída, a licença poética, quando todos os parafusos estão no lugar de praxe e cumprindo seu papel, a mente não suporte determinada pressão e caia em espiral sem propósito e noção do objetivo primeiro.
Ou seja, organizar uma festa de fim de ano que exige muita comida e muita bebida, não importando a multidão de parentes, por uma overdose de estímulos sensoriais garganta abaixo, de meia dúzia até não sei quantos.
Minha tia surtou, missão impossível pra ela reunir sanidade, planejamento de evento e execução do que passa pela cabeça da criatura.
Foram 4 dias em contagem regressiva, procurando talheres, travessas, utensílios variados, a prataria inox, fôrmas, baixelas, terrinas, pirexes, copos e mais copos. Nada descartável. Tudo pra ser esfregado, lavado e enxugado. A máquina de lavar prato é antiga, mas um cara por 80 reais consertou um vazamento, se vazar na madrugada do dia primeiro vai ser prejuízo pra ela.
Minha tia tem um forninho elétrico que ela não troca por nenhum microondas zerado. O forninho é uma antiguidade, me parece, o primeiro do gênero a existir no mundo. Então ela colocou todas as máquinas pra funcionar a contento.
Na primeira fase dos preparativos, a lavagen da parafernália guardada, bem como o que estava em uso, pra entreter noites e madrugadas adentro. Os mantimentos foram sendo comprados em supermercado 24hs, às 5:30 da manhã. Minha tia confiou na memória, o que deixou muita coisa faltando.
Na segunda fase, o preparo de sobremesas. A sua especialidade, pela qual se sente expert e a historia lhe honrará uma citação no google: o pudim de leite com as ameixas de lei em cima. Depois, a que busca perfeição, uma verdadeira bacia levando 3 caixas de gelatina de 3 cores diferentes.
Os pratos quentes, as saladas frias e outros doces, incluindo os brigadeiros pelas mãos e dedos, ficam pro dia 31.
Aí bate o frenesi, correr atrás das bebidas que estavam sendo compradas gota a gota - a ilusão da minha tia que o álcool é desnecessário ou no máximo deva se restringir a uma dose por pessoa, quando o ideal seria molhar os beiços apenas. Mais 2 tábuas de frios encomendadas num outro supermercado. Mais um pomar. Mais tira-gostos de toda sorte.
Antes que minha tia começasse a lavar as azeitonas em conserva pra servir secas aos convidados, o pessoal foi chegando e deu-se por encerrado os trabalhos. Grande quantidade de comida pretexto para uma grande bebedeira que acabou não acontecendo.
1 Comments:
QUERO LER MAS NÃO DÁ TEMPO...DEPOIS LEIO. SÓ LI A RAQUEL...COM MICOS FAMILIARES...
BUE
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